quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"Venha sim"

Passada a cólera, conclui desgostosa que todo o circo era fruto de uma mentira. Ou contada aos outros, ou a mim. Mas eu sabia que quem lhe conhecia era eu. Afinal, quantos mais ultrapassaram tua muralha, atingiram teu íntimo, ouviram teus desabafos? Diga-me ao menos se dói, ao fim do dia, tua consciência. Nem ao menos um pouco arrepende-te de prestar-te a esse papel? Explica-me como irá agir quando tornar-se insuportável sustentar sua imagem? Que há de fazer quando esgotarem-se suas piadas? Como agirá quando ser agradável não lhe bastar? Voltará a mim com palavras doces, fingindo estar arrependido? Dirá que sente muito, que quer deitar-te ao meu lado e ouvir um disco do Chico? E quando precisar de alguém mais profunda? Só mais uma coisa, se o Chico me permitir copiá-lo: "Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim. Olhos nos olhos, quero ver o que você diz. Quero ver como suporta me ver tão feliz".

3 comentários:

  1. Encerrar com a canção fabulosa de Chico foi apenas um detalhe perto da profundidade que esse texto parece retratar. Gosto do papel do texto intimista e seu fluxo. Gostei desse, porque também faria um desse neste momento de minha pacata vida. (Pra quer serviria a Literatura senão para nos remeter a algo da existência concreta?).

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  2. Que bom que gostou, Carneiro. Ele serviu bem, chegou nas mãos de quem tinha quer chegar KJGDJFSGHGJDFG É pra isso mesmo que parece servir.

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