quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O dia seguinte.

Sorri tímida, como se tivesse passado anos sem fazer isso. Quando se abre um sorriso frente a qualquer piada sem graça, fica estranho não mais o fazer. A sensação de felicidade tirou aquele peso que a mulher de roupão preto sempre nos deixa de lembrança. Consegui me retirar daquele estado apático e me lembrar de que nenhum limite físico acaba com o amor. Isso parece batido, mas quando se desenvolve uma relação estreita demais com sua família, você passa a entender que os laços de sangue são muito fortes. Fortes o bastante parar arrancar-lhe uma risada despretensiosa. Fortes o suficientes para lembrar com ternura, para adorar e para seguir em frente. Afinal, “Ser forte é sentir a dor e mesmo assim, continuar".

E eu não sei em que esquina ela me encontrará.

Outra vez, foi como se a minha habilidade de sorrir se esvaísse. Aquela mesma sala branca de cadeiras azuis voltava a me fazer refém dos últimos instantes. As flores: é impossível descrever o meu ódio pelas flores e pelo recinto. Passei algumas horas alternando desespero e descrença. Olhos embaçados e desorientados, procurando consolar e ser consolados. Busquei algum colo que me aconchegasse e que me trouxesse serenidade. Oscilava, chorava e tentava em vão preencher o silêncio.

A ausência de esperança me atormentara por um dia inteiro, dia que conduziu ao anúncio do fim. Olhei com atenção cada um dos traços daquele rosto sereno, procurando qualquer linha da qual eu não me lembrasse e suplicando qualquer movimento. Ele continuou imóvel. Uma olhada final me foi permitida. As orações das mulheres desconhecidas invadiam meus ouvidos sem permissão e sem fazer sentido. Vi as lágrimas dos outros, senti minhas forças serem sugadas. Um ano e cinco meses, eis que veio mais um adeus.