quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Êxtase.




A luz verde que emanava dos refletores pairava sobre aqueles cachos loiros, transformando-os, enquanto seu dono os balançava pra lá e pra cá no ritmo de uma melodia que invadia impiedosamente meus ouvidos, fazendo-me ficar imóvel. Observei mais que atentamente cada curva dos seus braços, cada movimento sinuoso com as mãos, desejando poder tocá-lo pelo menos por um segundo. Aquela voz sensual e aguda me envolvia, arrastava, levava-me pra mais perto. Eu podia senti-la me abraçando e prendi a respiração, para que nenhum movimento pudesse tirá-la dali. Ele dançava, como se a música estivesse invadindo-o também, e meus olhos acompanhavam cada passo que ele dava. Parei quando senti meus dedos tremerem, meus braços formigarem e uma sede insana. Parei, antes que ficasse "estupefato e confuso". Eis que agora me entregarei a 33:43 minutos de mais uma obra de arte. Feliz por uma dia tê-los conhecido e por conseguir traduzir, mesmo que de maneira singela, o êxtase pelo qual acabei de passar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O dia seguinte.

Sorri tímida, como se tivesse passado anos sem fazer isso. Quando se abre um sorriso frente a qualquer piada sem graça, fica estranho não mais o fazer. A sensação de felicidade tirou aquele peso que a mulher de roupão preto sempre nos deixa de lembrança. Consegui me retirar daquele estado apático e me lembrar de que nenhum limite físico acaba com o amor. Isso parece batido, mas quando se desenvolve uma relação estreita demais com sua família, você passa a entender que os laços de sangue são muito fortes. Fortes o bastante parar arrancar-lhe uma risada despretensiosa. Fortes o suficientes para lembrar com ternura, para adorar e para seguir em frente. Afinal, “Ser forte é sentir a dor e mesmo assim, continuar".

E eu não sei em que esquina ela me encontrará.

Outra vez, foi como se a minha habilidade de sorrir se esvaísse. Aquela mesma sala branca de cadeiras azuis voltava a me fazer refém dos últimos instantes. As flores: é impossível descrever o meu ódio pelas flores e pelo recinto. Passei algumas horas alternando desespero e descrença. Olhos embaçados e desorientados, procurando consolar e ser consolados. Busquei algum colo que me aconchegasse e que me trouxesse serenidade. Oscilava, chorava e tentava em vão preencher o silêncio.

A ausência de esperança me atormentara por um dia inteiro, dia que conduziu ao anúncio do fim. Olhei com atenção cada um dos traços daquele rosto sereno, procurando qualquer linha da qual eu não me lembrasse e suplicando qualquer movimento. Ele continuou imóvel. Uma olhada final me foi permitida. As orações das mulheres desconhecidas invadiam meus ouvidos sem permissão e sem fazer sentido. Vi as lágrimas dos outros, senti minhas forças serem sugadas. Um ano e cinco meses, eis que veio mais um adeus.

sábado, 7 de agosto de 2010

Botafogo de Futebol e Regatas.



Quem haverá de esclarecer como pode um time de futebol despertar tanto amor? Não existe ciência que explique o despertar arrematador de uma paixão assim. Basta a visão do mais imponente de todos os escudos para que meu coração aumente sua frequência e um sorriso se abra em meu rosto. Talvez nada mais consiga me encantar tanto, talvez nenhuma pessoa tenha minha dedicação tão absoluta. Jamais pensei que pudesse desenvolver um sentimento assim tão profundo, mas uma história tão incrível iria acabar me seduzindo, cedo ou tarde. O Botafogo jamais será apenas um time: é minha religião, minha vida, minha razão. Nada do que digam irá diminuir minha devoção. Meus olhos ainda brilharão quando eu vestir a camiseta listrada, quando nosso hino começar a tocar ou quando alguém ao menos mencionar o nome de algum dos nossos ídolos. Sou absolutamente louca, de fato, mas vale a pena. Porque mesmo depois de tantos sofrimentos, eis que chegam os momentos de felicidade plena, de puro orgulho. Ainda depois de tanto dizer, ainda não consegui explicar como é torcer pelo Glorioso, mas o fato é que apenas existirei enquanto puder gritar por ti.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"I must be strong, and carry on"

Ela me disse que sonhou com seu amigo. O amigo dela já se foi. Ela se sente mal por estar cercadas de pessoas que fingem entender o que ela está sentindo. Ela se sente mal porque as pessoas não compreendem o quão importante é saber ouvir, saber apoiar. E, acima de tudo, ela se sente mal porque perdeu alguém que era de fundamental importância pra ela.

E a minha mais nova amiga está com o mesmo sentimento que eu tinha poucos meses depois da morte da minha avó. Querida, a única coisa que me fez aceitar a ausência da minha pequenina avó foi saber que a morte apenas encerra as relações físicas. O que está dentro de você, no seu coração e na sua memória, fica guardado pra sempre. Se o seu amigo se foi, resta a certeza de que ele vai estar em algum lugar te acompanhando, e torcendo de verdade por ti. Eu sei que vão existir horas em que você vai chorar, se desesperar e gritar, porque a saudade aperta de uma forma que só quem sente sabe. Meu bem, "Deus escreve certo por linhas tortas". Ele o tirou de você por algum motivo, e você ainda o entenderá. Não hesite em pedir um ombro amigo quando a dor apertar, mas lembre que o seu doce amigo é, agora, uma parte de você. Da sua personalidade e da sua história.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

À todos os iludidos

Só acho que deveria escrever pra ver se o sofrimento diminui. Isso tudo deve ser amor, não é possível. Já senti toda essa merda antes e cabe dizer que eu realmente prefiro não sentir. Amor só é bonito nas músicas e nos filmes, não funciona na vida real. Na realidade, você vai se dedicar ao máximo e esperar algo da outra pessoa, mas ela não vai corresponder ao que você ansiava e você vai deixar de sorrir ouvindo Caetano. Ele vai cantar "fala que me ama, só que é da boca pra fora" e você vai sentir o coração pesar do peito, admitindo que é assim mesmo que funciona.
Mas a pior parte é que você ainda vai sonhar com ele, e no sonho vocês vão estar felizes. Você ainda vai ouvir as falsas declarações, ainda vai ligar, ainda vai chamá-lo de amor. Ainda vai se humilhar. Não vai deixar de falar com ele. E quando ele não tiver mais ninguém, ele vai te procurar. E você vai, mais que depressa, fazer tudo o que ele quiser. Você jura que não,


mas ainda vai implorar por alguns segundos de atenção.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Perfeito.


Não dá pra não sentir sua falta. Parece que cada música do Raul ou do Chico se materializa quando as escuto, e a forma que elas assumem é você. Eu posso estar falando besteira, mas parece que a nossa amizade é algo que transcende os limites materiais, físicos. Pra mim é como se você estivesse aqui comigo, porque estamos, de alguma forma, espiritualmente ligados. Você se encaixa perfeitamente naquilo que eu chamo de amigo. Como você disse: "Você é perfeito pra mim".

Parece que quando estávamos prestes a descer pra Terra, antes de nascer, éramos iguais. Mas ainda faltava escolher o time do coração. Você, muito apressado, escoheu a primeira porcaria que viu pela frente, e veio primeiro. Depois de muito ponderar sobre qual era o melhor e mais lindo time do universo, eu escolhi o Botafogo e desci, alguns dias depois. Mas agora, brincadeiras à parte, nós dois demoramos um tempo para nos encontrar, mas quando minha alma encontrou sua irmã gêmea, veja no que deu. Eu sei que é difícil aguentar um ano sem você, mas eu vou aguentar, pra poder te abraçar bem forte quando você chegar. Eu amo você.


"A amizade nasce no momento em que uma pessoa diz para a outra: 'O que? Você também? Pensei que eu era o único!'".

C. S. Lewis, nos definindo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Lembranças.

É engraçado como cada pequena coisa me lembra você. Se alguém me disser qualquer palavra e me der alguns segundos, consigo pensar em alguma brincadeira, conversa ou briga que a envolve. Às vezes machuca tanto sentir outros toques e lembrar de como era com você. Às vezes dói ouvir alguém contar uma piada e pensar em como eu queria estar ouvindo suas piadas horríveis. Eu admito que chorei hoje, lembrando de uma infinidade de histórias de nós dois que tenho pra contar. Admito que algumas lágrimas caíram imaginando se você ainda lembra dessas coisas. Será que você pensa em mim de vez enquando? Será que lembra da minha risada, das minhas manias, da minha voz ao telefone?
Não consigo aceitar que você não sinta minha falta. Afinal, foi quase um ano "de nós dois". Foi quase um ano em que nós dois éramos unidos, amigos, ou, pelo menos pra mim, mais que isso. Não dá pra aceitar que alguém seja tão frio, que consiga representar tão bem. Se um dia você ler isso, me dê uma explicação. Não mereço tanta coisa, nunca fui tão boa pessoa. Mas não me deixe a incerteza, só deixe a saudade.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Fim

Deitou-se calmamente
O rosto de encontro ao travesseiro
Seu corpo modelando o colchão.
O rosto pálido e inexpressivo.
Fechou os olhos cansados
Sentiu-os molhados e úmidos
A impotência dominou-a
Não havia mais nada a fazer
Tomou o cálice nas mãos
Não se levantou.
Derramou o líquido em sua boca
Lambeu uma gota que escorreu.
Fechou os olhos cansados
Sentiu-os molhados, úmidos
Pela última vez.