quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"Venha sim"

Passada a cólera, conclui desgostosa que todo o circo era fruto de uma mentira. Ou contada aos outros, ou a mim. Mas eu sabia que quem lhe conhecia era eu. Afinal, quantos mais ultrapassaram tua muralha, atingiram teu íntimo, ouviram teus desabafos? Diga-me ao menos se dói, ao fim do dia, tua consciência. Nem ao menos um pouco arrepende-te de prestar-te a esse papel? Explica-me como irá agir quando tornar-se insuportável sustentar sua imagem? Que há de fazer quando esgotarem-se suas piadas? Como agirá quando ser agradável não lhe bastar? Voltará a mim com palavras doces, fingindo estar arrependido? Dirá que sente muito, que quer deitar-te ao meu lado e ouvir um disco do Chico? E quando precisar de alguém mais profunda? Só mais uma coisa, se o Chico me permitir copiá-lo: "Quando talvez precisar de mim, cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim. Olhos nos olhos, quero ver o que você diz. Quero ver como suporta me ver tão feliz".

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Diário dos desajustados.

Cabelo preto, sem tinta, all star sujo e nenhum sorriso. Só mais uma meio a todos os "mais uns". Palavras contidas, sentimentos destroçados, sonhos ironizados. Os fones de ouvido confortam quem não pode ser calada, quem não pode ser virgem, quem não pode ser atéia. Quem tem que saber física, ser amiga de todos e frequentar todas as baladas. A verdade é que não se deve sofrer porque isso é coisa de gente fraca. Não se pode chorar porque isso é coisa de emo.Na verdade, é tudo aparência, mas o manual de etiqueta é quem dita as regras. No mais, jamais se esqueça que a sua essência necessita, essencialmente, ser esquecida.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Brincava com a caneta bic na boca, sem mordê-la, enquanto meus olhos estavam fixos no velho escudo do Botafogo na parede branca. Era o tempo quem ocupava minha cabeça. São segundos e segundos, meses e meses, décadas e décadas. É um constante ter e não mais ter, amar e não mais amar, confiar ou nem ao menos conversar. São desejos de voltar às risadas - patéticas, mas espontâneas - nas antigas tardes que, ao fim, valeram mais que as aulas de matemática da época. São textos e mais textos praguejados, chorados, odiados, pretensos a arrumar um culpado, definir um alvo. Até o dia apático no qual admite-se que tudo flui, que nada é capaz de parar-nos de fato. Que, por mais que sintamos raiva e saudade, o difícil é concluir que a razão das suas lágrimas fez-te chorar porque contribuiu. Contribuiu para sua personalidade, para seus sonhos e para seus momentos de vastos pensamentos, como o de agora, no qual você já está mordendo, mesmo que de leve, a tampa da sua caneta bic.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Meu.

Um turbilhão de memórias rompeu até mesmo os sons altos do lugar. Acalentei-me em seu colo, num momento de calmaria. Alguma discussão estava sendo abafada por alguns instantes, enquanto minha cabeça repousava em seu ombro. Tudo aquilo que já ocupou meu coração misturava-se ao cheiro que "não provém de um frasco". Suas mãos mantinham-me estável e segura, segurando-me carinhosamente, apesar das minhas manias e reclamações. Uma sensação contrastante com o ambiente tomava conta de mim. Apesar da depravação alheia, a menina-que-não-ama-pessoa-alguma estava contradizendo sua própria postura, sem ao menos relutar.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Seu Turcão, camisa seis.

Seu Valdívio era botafoguense roxo. Nasceu, segundo ele, “no mesmo ano ou um ano depois do Nílton Santos”. Viveu a era gloriosa do time da estrela solitária, viu jogar Jairzinho, Amarildo e Manga. Turcão passou para seus herdeiros não somente valores éticos e morais, mas também a paixão pelo alvinegro. Falava com saudosismo do fatídico primeiro treino de Garrincha, da frieza de Quarentinha e do “Príncipe Etíope”, o grande Didi. Assim como a do Botafogo, nossa trajetória foi cheia de altos e baixos. Algumas derrotas, várias glórias. Ele tinha seus defeitos, suas atitudes radicais, mas era íntegro. Era um homem de fibra e de valores. De raça, como o Bota.
Seu maior ídolo talvez tenha sido Nílton Santos. A semelhança entre ambos transcede a data de nascimento: meu avô tinha a mesma elegância que caracterizou o eterno camisa seis. Além disso, tinha aquele ar sábio, aquela experiência que só quem muito andou possui. Por isso, creio que ele também era uma “Enciclopédia”. Mas, acima de tudo, o traço mais marcante de todos foi a fidelidade. Assim como Nilton – que permaneceu no Botafogo até o fim de sua carreira -, Valdívio Aidar foi leal aos seus filhos, seus netos, seus pais e à Dona Luzia, até o último dia de sua vida.
Portanto, fica aqui meu singelo adeus, em preto e branco, àquele que criou as bases do que eu sou agora. Que me ensinou a valorizar o conhecimento, a família e até mesmo o nosso time. Que foi, indiscutivelmente, um marco em minha vida. E, de hoje em diante, o Botafogo será, para nós, um elo. Um elo tão indestrutível quanto o amor que dedico ao meu íncrivel avô. Eu amo você.